Queridos, todos!
Tão grata por receber noticias vossas, sabendo-vos bem e sentido-vos a
viajar comigo nas palavras que partilho! Enche-me de vontade, motiva-me e
inspira-me para continuar nessa partilha!:) Tão bom "ganharmos asas” e
“viajarmos” juntos!:)
Sábado foi um dia calmo no Kaop parque, dedicado maioritariamente à
preparação de aulas, intercalando com períodos de refeição, pequenos períodos
de socialização com os colegas, uma pausa para cumprimentar o Jobé (o macaco
que partilha connosco o campus) e com direito a uma intervenção terapêutica na
piscina a uma senhora com fibromialgia. A sessão na piscina foi relaxante para
as duas. Afinal, submergir numa água a 30º não faria menos que isso!:)
A moleza com que a água me deixou só poderia fazer antever uma noite
calma, serena e tranquila...
O domingo acordou cedo, como é habitual por aqui. Por volta das 5h30 da
manhã o primeiro raio de sol entra pela janela e diz “bom dia”!:) Fico na cama
sempre mais um pouco. O mais tardar até ás 7h30. A maior parte desse tempo a
fazer ronha, passado isso, é pôr-me de pé e aproveitar de mais um dia!
Acordo com um sorriso! Afinal, é dessa forma que agradeço à vida a forma
como me presenteia diariamente! A verdade é que esse esgar, essa linha
curvilínea da face, estava nesse dia mais acentuada: Domingo foi dia de
passeio!
É ritual por aqui ao domingo, tomar-se pequeno almoço na “Belissíma”!
A “Belíssima” é o spot sensação de Kifandongo (a localidade próxima ao
Kaop parque). Uma pastelaria de portugueses, bem ao nosso jeito e com as nossas
iguarias, onde é fácil beber um café delta, encontrar qualquer um dos nossos
bolos, tudo de fabrico próprio, de muito boa qualidade e onde um angolano nos
recebe e nos trata sempre com um sorriso!
Pequeno almoço tomado e é pormo-nos à estrada rumo ao próximo destino:
Barra do Dande!
Fui conduzida pelo Prof. Diogo (reitor da universidade), conosco seguiam
mais dois amigos dele. Em comum a todos: Biologia como formação de base, com um
passado por Angola, sábios de tanto conhecimento e com tanto para ensinar... e
eu ali ao lado com tanto por aprender...! Apercebo-me que sei tão pouco sobre
tanta coisa! Bom que existem estas pessoas que nos cruzam o caminho... que nos
falam da fauna e da flora (que os meus olhos captam a cada passagem), que nos
fazem recuar no tempo e na história, que nos transportam e nos fazem viajar até
outras eras, que nos falam do colonialismo e de guerras civis, que até nos
levam ao paleolítico e nos falam da separação e da formação dos
continentes...com o maior dos facilitismos!
E a Barra do dande é isso mesmo: um sinal de separação e formação dos
continente. Uma zona de praias onde desagua um rio com o mesmo nome. Uma zona
lindíssima com um mar de perder de vista!
Á chegada sente-se um cheiro de fazer crescer água na boca. Se lhe
seguimos o rasto, desembocamos num grelhador ou melhor, numa jante que faz
disso mesmo e que grelha postas enormes de sargo e corvina, também as suas
cabeças e as tão afamadas lagostas. Fez-se antever e confirmou-se um almoço
fantástico, sem lagosta (porque havia terminado) mas com uma posta de corvina
suculenta e a acompanhar um feijão em óleo de palma, banana frita e mandioca.
Tudo de comer e chorar por mais!
Nas reentrâncias da praia do Dande banham-se muitas crianças. Felizes e
como vieram ao mundo, deixam-se fotografar com o mais bonito dos sorrisos. De
entre muitas, há uma que diz: “ Com a fotografia roubas-nos a alma!”. Quiseram
ver-se na foto e foi com o mesmo sorriso que regressaram à água para mais um
mergulho e em cada um, conseguem regressar à superfície com um peixe na
mão! Fiz-lhes adeus e parti... no meu pensamento o que me disseram:
“roubas-nos a alma”...
Uma coisa é certa: Na Barra do Dande, qualquer mergulho purifica a alma
de qualquer um!
E foi assim que regressámos ao final do fim-de-semana: um coração cheio
de sorrisos, uma alma cheia de coisas boas!
Segunda feira foi o frenesim no Kaop parque: inicio do ano lectivo,
começo da agitação! ainda me restavam dois dias para preparação de slides
e aulas até hoje, quarta feira, dia de estreia de Rita Sousa como professora!!
MÊ-DO!:)
Posso-vos dizer que nos dois dias anteriores “ paniquei em monte”,
somatizei tudo e mais alguma coisa e a minha cabeça “rumina” tudo e mais alguma
coisa que não deve “ruminar”!
Acho (mas sou suspeita) que a aula não correu mal! Que os alunos até
gostaram (pelo menos foi o feedback que me transmitiram) e que alguma coisa
ficou, daquilo que lhes transmiti.
Os olhos bem abertos e atentos demonstravam uma sede de conhecimento. A
falta de bases, denunciada à primeira pergunta que lhes coloquei. A atenção
camufla o desentendimento sobre o que falo mas que também é percebido à segunda
pergunta que dirijo. Obriga-me a “desmembrar” e descomplicar tudo aquilo que
digo surpreendo-me, ao conseguir fazê-lo e ao sentir que houve realmente alguma
coisa que ficou... resta-me saber se se prolonga no tempo...saberei já na
próxima aula!:)
Para celebrar o dia, fui na “machibombo” (a carrinha Ford transit de 9
lugares, antiga e sem ar condicionado aqui da faculdade) até à localidade de
Panguila, ao mercado do Roque Santeiro. O Samuel (Samu para os amigos), colega
e coordenador do curso de turismo, precisou comprar tabaco e lá fomos. O mercado
do Roque Santeiro veio substituir o antigo mercado do “roque", o maior de
Luanda e o maior de Angola, onde se vende TUDO! Tudo o que se vende à beira da
estrada e muito mais. Um mercado de perder de vista...e onde consta, no
antigamente, vender-se mulheres, crianças e orgãos :(
Voltámos com o pôr-do-sol: imaginem uma árvore ao fundo, negra pelo
reflexo dessa luz, nua por não ter ramagem e o espectro de laranjas como pano
de fundo... foi dessa forma mágica que o dia hoje se despediu...:)
Agora, à noite, aqui no Kaop Parque enquanto vos escrevo, por vezes
falha a luz!
Nos entretantos entre essa falha e o retomar da energia pelo gerador é a
lua quem mais nos ilumina!
É a esse C curvo de um quarto minguante que no céu escrevo e adicciono:
“omigo no coração”!!
Abraço-vos forte, com saudade,
Rita
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