sábado, 17 de agosto de 2013

Luanda, 13 de Março de 2013


Queridos, todos!

Tão grata por receber noticias vossas, sabendo-vos bem e sentido-vos a viajar comigo nas palavras que partilho! Enche-me de vontade, motiva-me e inspira-me para continuar nessa partilha!:) Tão bom "ganharmos asas” e “viajarmos” juntos!:)

Sábado foi um dia calmo no Kaop parque, dedicado maioritariamente à preparação de aulas, intercalando com períodos de refeição, pequenos períodos de socialização com os colegas, uma pausa para cumprimentar o Jobé (o macaco que partilha connosco o campus) e com direito a uma intervenção terapêutica na piscina a uma senhora com fibromialgia. A sessão na piscina foi relaxante para as duas. Afinal, submergir numa água a 30º não faria menos que isso!:)
A moleza com que a água me deixou só poderia fazer antever uma noite calma, serena e tranquila...

O domingo acordou cedo, como é habitual por aqui. Por volta das 5h30 da manhã o primeiro raio de sol entra pela janela e diz “bom dia”!:) Fico na cama sempre mais um pouco. O mais tardar até ás 7h30. A maior parte desse tempo a fazer ronha, passado isso, é pôr-me de pé e aproveitar de mais um dia!

Acordo com um sorriso! Afinal, é dessa forma que agradeço à vida a forma como me presenteia diariamente! A verdade é que esse esgar, essa linha curvilínea da face, estava nesse dia mais acentuada: Domingo foi dia de passeio!

É ritual por aqui ao domingo, tomar-se pequeno almoço na “Belissíma”!

A “Belíssima” é o spot sensação de Kifandongo (a localidade próxima ao Kaop parque). Uma pastelaria de portugueses, bem ao nosso jeito e com as nossas iguarias, onde é fácil beber um café delta, encontrar qualquer um dos nossos bolos, tudo de fabrico próprio, de muito boa qualidade e onde um angolano nos recebe e nos trata sempre com um sorriso! 

Pequeno almoço tomado e é pormo-nos à estrada rumo ao próximo destino: Barra do Dande!

Fui conduzida pelo Prof. Diogo (reitor da universidade), conosco seguiam mais dois amigos dele. Em comum a todos: Biologia como formação de base, com um passado por Angola, sábios de tanto conhecimento e com tanto para ensinar... e eu ali ao lado com tanto por aprender...! Apercebo-me que sei tão pouco sobre tanta coisa! Bom que existem estas pessoas que nos cruzam o caminho... que nos falam da fauna e da flora (que os meus olhos captam a cada passagem), que nos fazem recuar no tempo e na história, que nos transportam e nos fazem viajar até outras eras, que nos falam do colonialismo e de guerras civis, que até nos levam ao paleolítico e nos falam da separação e da formação dos continentes...com o maior dos facilitismos! 

E a Barra do dande é isso mesmo: um sinal de separação e formação dos continente. Uma zona de praias onde desagua um rio com o mesmo nome. Uma zona lindíssima com um mar de perder de vista!

Á chegada sente-se um cheiro de fazer crescer água na boca. Se lhe seguimos o rasto, desembocamos num grelhador ou melhor, numa jante que faz disso mesmo e que grelha postas enormes de sargo e corvina, também as suas cabeças e as tão afamadas lagostas. Fez-se antever e confirmou-se um almoço fantástico, sem lagosta (porque havia terminado) mas com uma posta de corvina suculenta e a acompanhar um feijão em óleo de palma, banana frita e mandioca. Tudo de comer e chorar por mais!

Nas reentrâncias da praia do Dande banham-se muitas crianças. Felizes e como vieram ao mundo, deixam-se fotografar com o mais bonito dos sorrisos. De entre muitas, há uma que diz: “ Com a fotografia roubas-nos a alma!”. Quiseram ver-se na foto e foi com o mesmo sorriso que regressaram à água para mais um mergulho e em cada um, conseguem regressar à superfície com um peixe na mão! Fiz-lhes adeus e parti... no meu pensamento o que me disseram: “roubas-nos a alma”...

Uma coisa é certa: Na Barra do Dande, qualquer mergulho purifica a alma de qualquer um!
E foi assim que regressámos ao final do fim-de-semana: um coração cheio de sorrisos, uma alma cheia de coisas boas!

Segunda feira foi o frenesim no Kaop parque: inicio do ano lectivo, começo da agitação!  ainda me restavam dois dias para preparação de slides e aulas até hoje, quarta feira, dia de estreia de Rita Sousa como professora!! MÊ-DO!:)

Posso-vos dizer que nos dois dias anteriores “ paniquei em monte”, somatizei tudo e mais alguma coisa e a minha cabeça “rumina” tudo e mais alguma coisa que não deve “ruminar”!

Acho (mas sou suspeita) que a aula não correu mal! Que os alunos até gostaram (pelo menos foi o feedback que me transmitiram) e que alguma coisa ficou, daquilo que lhes transmiti.

Os olhos bem abertos e atentos demonstravam uma sede de conhecimento. A falta de bases, denunciada à primeira pergunta que lhes coloquei. A atenção camufla o desentendimento sobre o que falo mas que também é percebido à segunda pergunta que dirijo. Obriga-me a “desmembrar” e descomplicar tudo aquilo que digo surpreendo-me, ao conseguir fazê-lo e ao sentir que houve realmente alguma coisa que ficou... resta-me saber se se prolonga no tempo...saberei já na próxima aula!:)

Para celebrar o dia, fui na “machibombo” (a carrinha Ford transit de 9 lugares, antiga e sem ar condicionado aqui da faculdade) até à localidade de Panguila, ao mercado do Roque Santeiro. O Samuel (Samu para os amigos), colega e coordenador do curso de turismo, precisou comprar tabaco e lá fomos. O mercado do Roque Santeiro veio substituir o antigo mercado do “roque", o maior de Luanda e o maior de Angola, onde se vende TUDO! Tudo o que se vende à beira da estrada e muito mais. Um mercado de perder de vista...e onde consta, no antigamente, vender-se mulheres, crianças e orgãos :(

Voltámos com o pôr-do-sol: imaginem uma árvore ao fundo, negra pelo reflexo dessa luz, nua por não ter ramagem e o espectro de laranjas como pano de fundo... foi dessa forma mágica que o dia hoje se despediu...:)

Agora, à noite, aqui no Kaop Parque enquanto vos escrevo, por vezes falha a luz!
Nos entretantos entre essa falha e o retomar da energia pelo gerador é a lua quem mais nos ilumina!
É a esse C curvo de um quarto minguante que no céu escrevo e adicciono: “omigo no coração”!!

Abraço-vos forte, com saudade,

Rita


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