sábado, 17 de agosto de 2013

Luanda, 24 de Maio de 2013


Meus queridos todos!

E eis que chega ao final mais uma semana... menos uma para o meu regresso...e está tão próximo! :)

Cá estou de novo sentada na cadeira de sempre, que já me conhece e já me trata por tu e que sabe muitos dos meus momentos (sim, esta cadeira e estas paredes, estas 4 paredes, já me guardam muitas histórias, já sabem muito a meu respeito! :) ). Cá estou na cadeira em que me sento e que me deixa sempre uma vontade imensa de sentir perto... quem está longe!

Então é aqui, nesta cadeira, em que pego na caneta e me apercebo e surpreendo com a capacidade que uma simples caneta tem de encurtar as distâncias... da facilidade com que, quase como que por osmose, os meus sentimentos, as minhas emoções e a minha vida por aqui, me vão escorrendo pelos dedos e se transformam em tinta no papel ... da facilidade com que o meu coração vem parar ás mãos... e dessa forma me aproximo de ti que me lês neste momento e me faço sentir eu, contigo!

Hoje, neste quarto de onde vos escrevo o tempo sente-se diferente, tem uma conotação diferente, vive-se diferente... Talvez o sinta hoje assim porque muitas vezes “neste quarto o tempo é medo e o medo faz-nos sós” e hoje consigo perspectiva-lo de uma outra forma... Talvez porque sinta já o “cheiro” da proximidade do “meu” centro do mundo, talvez... mas a verdade é que gostava de senti-lo e sentir-me sempre, ou mais vezes com esta serenidade, com esta leveza e tranquilidade que hoje me acompanham... Talvez isso faça parte do processo e da aprendizagem... talvez...  e eu acredito que sim porque já está a fazer! J

Estão a bater à porta os 3 meses... e se passaram rápido! Uns dias a saborea-los da melhor forma outros, menos bem. De qualquer forma, o meu balanço não pode ser se não positivo! Muito...

Conheci um novo continente, um novo pais, uma nova cultura! Conheci novos povos, novas caras, novas gentes e fiz novos amigos! Distribuí e recebi sorrisos. Partilhei e recebi conhecimento. Senti novos sabores, novos cheiros, novas músicas... Dancei outras danças, vivi outros ritmos, andei por outras andanças, corri outros caminhos, caminhei por outras estradas... E já fiz tanto aqui mesmo quando tantas vezes me senti só, neste mesmo sitio, nesta minha cadeira... talvez tivesse eu fugido no tempo... sem me ter apercebido que é tudo tão maior aqui!

Saí da minha “zona de conforto” e este olhar de fora para dentro também me permitiu encaixar tanta coisa que andava meio que “perdida” em mim...! Fez-me bem... está a fazer-me bem... Permitiu-me escutar-me melhor, perceber-me melhor, sentir-me melhor...acredito com muita força que nada acontece por acaso e que tudo tem uma razão muito forte para o ser...e isso é mais forte que tudo o resto! J

Aqui está a entardecer... sentem-se os dias a ficar menos quentes. O dia acorda e adormece mais fresco. Está para chegar o cacimbo, já devia ter chegado... talvez só chegue quando eu partir, para não me enlouquecer entretanto!:) Abril foi o mês de chuvas. E a dificuldade que as chuvas  trazem a estas gentes?! Minha nossa... há alunos que têm que deixar as aulas para conseguirem chegar às suas casas pois se não o fizerem correm o risco de ficarem sem acessos devido à lama e à entrada de água dentro das habitações. E deixem-me que vos fale um pouco dessas condições habitacionais: a maior parte das casas, não são propriamente casas, são cubos de chapas de zinco. Quatro placas e está feita uma “casa” e elas crescem como cogumelos mesmo aqui ao lado da universidade. Não têm água, nem luz e muitas das vezes, são as velas que iluminam nas noites quentes os livros por onde os nossos alunos estudam... é difícil de imaginar, mais difícil  sentir e conviver de perto com uma realidade tão diferente e tão díspar da nossa....

A época das chuvas levou-me a ver algo que nunca sequer tinha imaginado que pudesse virar negocio! Mas bem, como eu costumo dizer, aqui em Angola eu já acredito em tudo! J Há zonas que ficam completamente alagadas, enlameadas e de difícil acesso. E então, em boa verdade vos digo que existem pessoas que se servem dessas situações para ganhar a vida: cobram para revestirem com sacos de plástico e fita cola os pés e as pernas de quem não tem possibilidade de adquirir umas galochas, cobram para colocarem pedras em zonas de charcos e lama por permitir que as pessoas  se consigam deslocar de um local para outro e cobram ainda para transportar ás “cavalitas” quem não esteja disposto a molhar-se e ficar atolado!  É a luta pela sobrevivência num pais em que vale tudo e que tem tudo para ter tudo... enfim....

Aqui já anoiteceu... O dia virou noite com o pôr-do-sol mágico a que Luanda me tem habituado... e vou confessar-vos uma coisa, Angola tem o pôr-do-sol mais lindo a que assisti em toda a minha vida!

Agora na noite escura, são as estrelas quem mais brilham! Pedi a uma delas um favor! Agora peço-te a ti: Abre a tua mão, isso! Agora fecha! Junta-a agora à tua metade esquerda e superior do tronco, bem próximo ao coração, isso! Agora abre! Sentiste?!  Pedi à estrela mais brilhante que deixasse um beijo na tua mão! ;)

Abraço-te forte com saudade...


Rita Sousa



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