Voo nº SA55, South African airways, destino
Joanesburgo ligação a Cape Town. Passageiros acomodados, tripulação a postos, arm
doors e Cross check, assim se embarca em mais uma aventura: " Os
cinco" por terras de África, um pouco mais a sul. Desta vez sou a mulher
no meio de 4 elementos masculinos.
Cape Town, a cidade com a maior latitude do
continente, recebeu-nos com um fresquinho ao qual me tenho vindo a desabituar
pois, desde Março passado que não sei o que isso é.
Á saída do aeroporto esperava-nos um
fiat punto que havíamos reservado previamente e viria a ser nossa
companhia nos 3 dias vindouros. Já era tarde, e nesse escuro da noite cerrada,
foi o GPS o nosso melhor amigo, que amenizou a dificuldade de conduzir à
direita encostado à esquerda e, embora se tivesse "experimentado" a
condução em contra-mão, ele fez-nos chegar com confiança ao local de destino:
Camps Bay Resort.
Acomodadas as bagagens foi tempo de sair e
espreitar a noite de Cape Town, afinal, era Sábado e o pouco tempo que iríamos
permanecer por estas paragens, levou a que aproveitássemos intensamente cada
instante.
Rumamos ao centro e de cima da Table Mountain
avista-se a cidade. E que imagem essa, mágica, de suster o folgo e a respiração
com um mundo cintilante aos nossos pés, indiscritível e que fica no coração de
quem vive...
Foi fácil chegar á long street, mais difícil
encontrar algo aberto e que suprisse as nossas necessidades: "forrar"
o estômago aos mais famintos. O "Zula" parecia vir a servir na
perfeição. Um espaço alternativo, com três pistas de dança que tive a
oportunidade de bisbilhotar e onde cada um dançava ao seu jeito, como se num
mundo próprio vivesse e não houvesse amanhã, um género de trance dance. Num
espaço mais reservado, servia-se refeições ligeiras. Foi aí que partilhámos
umas tostas de galinha, numa amena cavaqueira. Á saída fomos advertidos por um
segurança de que frequentávamos uma zona perigosa. Não demos por isso. Isto
para quem se acostuma a andar por Luanda, tudo o que seja menos que isso, é na
paz!
Bateram as 2h e foi hora de
regressar aos aposentos. Foi aí que a cabeça repousou na almofada, mas a alma
se agitou com a ânsia de devorar todo um mundo novo que está fora por
descobrir... Foi dormir a correr pois a alvorada estava convocada para as
8h.
Acordo, afasto o cortinado e tenho o mar aos
pés! É esta a imagem que guardo deste sitio. Aqui o mar tem uma bravura imensa
que ao mesmo tempo que nos petrifica pela beleza, nos incomoda pela força e
pela potência e nos deixa a pensar do que somos realmente feitos...
O pequeno almoço foi "o fim da
macacada". Depois de não ter feito a digestão da tosta do dia anterior,
meti-me em ovos estrelados com bacon e salsichas. Foi o passaporte para o mau
estar, causado pela paragem de digestão, para o dia todo.
As condições meteorológicas não estavam a
ajudar para com os "planos das festas". O teleférico que desce a
Table Mountain não está operacional na existência de nevoeiro. Mudamos a rota e
seguimos a Sul, rumo ao Cabo Agulhas. Por momentos senti-me na estrada que deixa
para trás Vila do Bispo e segue direção ao sítio mais terapêutico do mundo mas
não encontrei topas, nem pau de pita, nem tonel nem mareta e muito menos
palácio inácio. Não é melhor, não é pior, é diferente... Permitiu-me respirar o
ar do mar, que renova e liberta e ver com os meus próprios olhos o local onde
oceano Atlântico e Indico se cruzam e se fundem numa beleza impar.
O regresso foi com o pôr-do-sol mas a
indisposição não me permitiu acompanhar os colegas de jornada para a jantarada
de frutos do mar... Parece que foi boa...Fiquei-me pelo chá e fui sonhar cedo.
A segunda feira acordou igualmente coberta de
nevoeiro atraiçoando-nos novamente os planos. Não contentes com a desfeita,
seguimos para waterfront, uma zona portuária e de marina, próxima ao centro da
cidade e que contempla um centro comercial ( o maior da África do Sul) com
todos os tipos de lojas, marcas, restaurantes e cafés, confortáveis,
convidativos e de design super arrojado, não fosse Cape Town capital mundial do
design 2014. É uma cidade cosmopolita, onde várias culturas se encontram e se
misturam no chamado melting pot. Uma África bem distinta da que me tenho
habituado. Não há anarquia nem caocidade no transito, não há buzinadelas, não
há barulheira, não há buracos nas estradas, não há lixo em parte nenhuma. A
sério, uma cidade demasiadamente organizada para a desorganização a que me
tenho vindo a adaptar e onde as pessoas nos recebem e nos tratam sempre com o
maior dos sorrisos parecendo que o terror do apartheid nem sequer passou por
ali.
O nevoeiro amainou mas nem por isso o
teleférico reabriu. E porque quando Maomé não vai á montanha, vai a montanha a
Maomé, não fizemos por menos, fomos ver tudo bem do alto, e levantámos voo,
rasgando o céu de helicóptero.
E tantas borboletas na barriga ao olhar para
baixo e contemplar a imagem que nos vai aparecendo! A cidade centrada entre o
mar e a montanha como pano de fundo e ao descer a Sul, tanto mar, tanto lago,
tanta baía, tanta casa numa organização que respira harmonia... Tanta luz aqui!
Percebo minha Ritinha porque poderá ter sido este o sítio que escolheste.. Que
escolheram :)
Um dia de muita emoção, e antes de o
finalizarmos com um jantar no Mama África ( carne de crocodilo, avestruz e
veado) ainda pegámos no carro e voltamos a Sul, faltava-nos o "cape of
good Hope”!
É desse sítio, onde as tormentas viram boa
esperança, onde o medo vira só vontade e onde a vida se abraça, que vos
abraço também, num abraço forte e apertado!
Com saudade,
Rita