quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Porque o meu desperdício não tem que ser o teu consolo...


Hoje saí “de fininho” pela porta dos fundos...

A rede que nos separa nestes dois lados, não me torna insensível, não me impede de aperceber do movimento das vozes, dos gritos, do riso, do choro, do brincar das crianças, do encontro e passagem dos mais velhos, do grunhir dos porcos, do piar das galinhas, das conversas, do cheiro das queimadas, da música nas noites quentes, do movimento das gentes, da vida vivida por ali...

Afinal é só mesmo uma rede que nos separa e não é ela que me impede de questionar a “cor da minha fé”... Não é ela que me impede de conhecer e querer ter perto quem vive lado a lado, quem dorme sobre o mesmo tecto e partilha o mesmo nascer e o mesmo pôr-do-sol mas a quem injustamente, a legitimidade de uma vida digna lhe foi roubada...

Brindaste-me com um sorriso quando quebrei essa separação para te dar a mão e deixar-te pouco mais que isso...

Voltei com a consciência inquieta... É duro aceitar esta realidade injusta... Porque o meu desperdício, não tem que ser o teu consolo...


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Do Coração...

“Está bom e recomenda-se”... dizem os experts! Só há um pequeno pormenor que não estou a perceber: sedentária?!?! Esta gente diz com cada coisa....:)
É nesse sitio quentinho, onde o pulsar é mais forte, que em segredo te guardo... a Ti que és especial!

Do meu... um abraço no Teu! ;)*



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Porque Hoje é um dia Especial...

Na minha vida existem princesas mágicas... Pessoas que têm pós de prelimpimpim, pessoas que trazem sentido à minha vida, que a fazem valer tanto a pena, que nos inspiram, que nos libertam, que nos transportam ao que de melhor existe, que nos mostram a face positiva das coisas, que nos tocam e abraçam o coração mesmo quando a distância física acontece, que se fazem sentir perto e estão sempre aqui mesmo quando um oceano as separa...

Tu és uma delas meu amor e é a Ti que hoje e sempre te desejo: O MELHOR!

Deste lado te sopro um beijo, embrulhado num forte e caloroso abraço... aquele... que nós sabemos qual é! ;)*

sábado, 17 de agosto de 2013

Luanda, 17 de Agosto de 2013


De Angola, com Amor...

Deste lado de cá estou de novo.... e a saudade que vive dentro já se quer fazer sentir perto... por isso aqui estou, para me fazer sentir eu-contigo naquilo que me lês.

Estive ausente destas lides da escrita por mais que dois meses e meio. E esse entretanto soube-me tão bem... Soube-me tão bem o abraço da chegada, o calor das pessoas, os sorrisos, a magia dos momentos, o tocar, o beijo, o ver as minhas estrelas, ver o meu tecto, o olhar olhos nos olhos, o sentir perto, o respirar o ar da vida, dessa vida vivida por aí! Soube-me tão bem fazer o caminho que me leva de regresso a casa e que me transporta ao melhor abraço do mundo!

 E passou rápido... passou rápido demais, diria mesmo que “à velocidade da luz” pois é dessa forma que passa o tempo quando estamos juntos daqueles que nos fazem e nos querem tanto bem! Passou tão rápido que quase sem me dar conta estava de novo envolvida nos melhores abraços do mundo que me diziam: estou contigo...até ao teu regresso!

Foi de coração apertado e lágrimas no canto do olho (e pela cara inteira e tudo e tudo e tudo) que entrei no aeroporto e parti! Curioso como o aeroporto já me fez experiênciar as sensações mais dispares: a emoção da alegria e efusão da chegada e a tristeza partida. E interessante apercebermo-nos de como estas emoções circulam sobre o mesmo tecto de um aeroporto nas diferentes pessoas que  o cruzam: um indiano ajoelhado a uma porta de embarque fechada, implorava e chorava para que o deixassem partir e eu na expectativa de que a minha se fechasse e que isso fosse “um sinal” para não ir!

Mas a porta abriu, a vida mandou-me ir... e eu vim!

E cá estou... ao final de 9 dias no Kaop sem muito para contar. As aulas começaram mesmo antes de eu chegar. Para mim, começaram na segunda feira passada. E entre preparar aulas, tratar de aspectos burocráticos relacionados, avaliações, comer e dormir, pouco mais se faz nestes 100 metros que medeiam o quarto e a sala de aula.

Para dizer a verdade, esta semana não tem sido fácil. Os meus medos, as minhas inseguranças e todas aquelas coisas menos boas de se sentir andam à tona! Ando aqui numa gestão pessoal para os domar que dá luta... vou-me sentindo... e encontrando as respostas que me fazem ir vivendo cada dia...

Conforta-me estar aqui a escrever-vos e olhar para a mesa de cabeceira que tenho a meu lado e observar um coração de madeira que diz: “ Home is where the heart is”.... É desse sitio que nunca fui embora... porque é aí que o  amor está!

Abraço-vos forte o coração!
Deixo-vos com um sorriso... este:




Luanda, 24 de Maio de 2013


Meus queridos todos!

E eis que chega ao final mais uma semana... menos uma para o meu regresso...e está tão próximo! :)

Cá estou de novo sentada na cadeira de sempre, que já me conhece e já me trata por tu e que sabe muitos dos meus momentos (sim, esta cadeira e estas paredes, estas 4 paredes, já me guardam muitas histórias, já sabem muito a meu respeito! :) ). Cá estou na cadeira em que me sento e que me deixa sempre uma vontade imensa de sentir perto... quem está longe!

Então é aqui, nesta cadeira, em que pego na caneta e me apercebo e surpreendo com a capacidade que uma simples caneta tem de encurtar as distâncias... da facilidade com que, quase como que por osmose, os meus sentimentos, as minhas emoções e a minha vida por aqui, me vão escorrendo pelos dedos e se transformam em tinta no papel ... da facilidade com que o meu coração vem parar ás mãos... e dessa forma me aproximo de ti que me lês neste momento e me faço sentir eu, contigo!

Hoje, neste quarto de onde vos escrevo o tempo sente-se diferente, tem uma conotação diferente, vive-se diferente... Talvez o sinta hoje assim porque muitas vezes “neste quarto o tempo é medo e o medo faz-nos sós” e hoje consigo perspectiva-lo de uma outra forma... Talvez porque sinta já o “cheiro” da proximidade do “meu” centro do mundo, talvez... mas a verdade é que gostava de senti-lo e sentir-me sempre, ou mais vezes com esta serenidade, com esta leveza e tranquilidade que hoje me acompanham... Talvez isso faça parte do processo e da aprendizagem... talvez...  e eu acredito que sim porque já está a fazer! J

Estão a bater à porta os 3 meses... e se passaram rápido! Uns dias a saborea-los da melhor forma outros, menos bem. De qualquer forma, o meu balanço não pode ser se não positivo! Muito...

Conheci um novo continente, um novo pais, uma nova cultura! Conheci novos povos, novas caras, novas gentes e fiz novos amigos! Distribuí e recebi sorrisos. Partilhei e recebi conhecimento. Senti novos sabores, novos cheiros, novas músicas... Dancei outras danças, vivi outros ritmos, andei por outras andanças, corri outros caminhos, caminhei por outras estradas... E já fiz tanto aqui mesmo quando tantas vezes me senti só, neste mesmo sitio, nesta minha cadeira... talvez tivesse eu fugido no tempo... sem me ter apercebido que é tudo tão maior aqui!

Saí da minha “zona de conforto” e este olhar de fora para dentro também me permitiu encaixar tanta coisa que andava meio que “perdida” em mim...! Fez-me bem... está a fazer-me bem... Permitiu-me escutar-me melhor, perceber-me melhor, sentir-me melhor...acredito com muita força que nada acontece por acaso e que tudo tem uma razão muito forte para o ser...e isso é mais forte que tudo o resto! J

Aqui está a entardecer... sentem-se os dias a ficar menos quentes. O dia acorda e adormece mais fresco. Está para chegar o cacimbo, já devia ter chegado... talvez só chegue quando eu partir, para não me enlouquecer entretanto!:) Abril foi o mês de chuvas. E a dificuldade que as chuvas  trazem a estas gentes?! Minha nossa... há alunos que têm que deixar as aulas para conseguirem chegar às suas casas pois se não o fizerem correm o risco de ficarem sem acessos devido à lama e à entrada de água dentro das habitações. E deixem-me que vos fale um pouco dessas condições habitacionais: a maior parte das casas, não são propriamente casas, são cubos de chapas de zinco. Quatro placas e está feita uma “casa” e elas crescem como cogumelos mesmo aqui ao lado da universidade. Não têm água, nem luz e muitas das vezes, são as velas que iluminam nas noites quentes os livros por onde os nossos alunos estudam... é difícil de imaginar, mais difícil  sentir e conviver de perto com uma realidade tão diferente e tão díspar da nossa....

A época das chuvas levou-me a ver algo que nunca sequer tinha imaginado que pudesse virar negocio! Mas bem, como eu costumo dizer, aqui em Angola eu já acredito em tudo! J Há zonas que ficam completamente alagadas, enlameadas e de difícil acesso. E então, em boa verdade vos digo que existem pessoas que se servem dessas situações para ganhar a vida: cobram para revestirem com sacos de plástico e fita cola os pés e as pernas de quem não tem possibilidade de adquirir umas galochas, cobram para colocarem pedras em zonas de charcos e lama por permitir que as pessoas  se consigam deslocar de um local para outro e cobram ainda para transportar ás “cavalitas” quem não esteja disposto a molhar-se e ficar atolado!  É a luta pela sobrevivência num pais em que vale tudo e que tem tudo para ter tudo... enfim....

Aqui já anoiteceu... O dia virou noite com o pôr-do-sol mágico a que Luanda me tem habituado... e vou confessar-vos uma coisa, Angola tem o pôr-do-sol mais lindo a que assisti em toda a minha vida!

Agora na noite escura, são as estrelas quem mais brilham! Pedi a uma delas um favor! Agora peço-te a ti: Abre a tua mão, isso! Agora fecha! Junta-a agora à tua metade esquerda e superior do tronco, bem próximo ao coração, isso! Agora abre! Sentiste?!  Pedi à estrela mais brilhante que deixasse um beijo na tua mão! ;)

Abraço-te forte com saudade...


Rita Sousa



Luanda, 14 de Maio de 2013


Olá J.!

As estrelas de que falas são especiais sim... são iguais a muitas outras?! Talvez sim.. ou talvez não sejam... Talvez para nós, talvez aos nossos olhos tenham uma luz mais intensa, um brilho especial e diferente... E o que interessa é o que elas são aos nossos olhos.. E elas são especiais sim, já somos dois a partilhar a mesma opinião... Para ti essas são as que iluminam a casa que tanto te diz, que tantas memórias te traz, tantas recordações comporta  e que tanta história tem dentro das suas 4 paredes....  
Para mim esse é o “tecto” que cobre a minha “divisão preferida da casa”... É o “tecto” que me tem coberto a maior parte do tempo da minha vida, é o “tecto” que é cúmplice da maior parte das minhas histórias, dos meus momentos, das minhas experiências, das minhas vivências e é o “tecto” que cobre a maior parte das pessoas que AMO...

Acontece que o “tecto” um dia com mais, outro dia com menos estrelas, vai permanecendo por ai... espera por nós...as histórias, as lembranças, as memórias de momentos passados também ficam eternamente em nós, isso também acontece com as pessoas... quando as pessoas viram estrelas, permanecem eternamente em nós....

Mas sabes J. ...esse é o meu maior medo!! Tenho medo que as pessoas que mais amo na vida virem estrelas... Tenho medo de que a única forma em que as possa contemplar seja a recordá-las no meu coração....

O que mais me dói neste momento é não estar sobre esse “tecto” para as poder abraçar fisicamente, para as ajudar, para as sentir, para as tocar, para as beijar, para lhes dizer olhos nos olhos que as amo!! Isso é o que mais me dói João! porque infelizmente, o tempo não se compra e não está à venda... e eu tenho medo desse tempo que intermedeia  o estar físico das “minhas estrelas” com o virarem “estrelas cósmicas “... tenho medo deste tempo em que estou longe, este tempo que não tem preço e em que estou fisicamente distante daqueles que AMO!

Porque se me perguntares agora, neste preciso momento o que é mais importante para mim na vida, eu respondo o que responderia ontem e o que responderia amanhã e em todos os dias da minha vida: As pessoas que AMO! E porque se algum dia eu responder diferente... É porque já não sou EU que estou aqui!

Estou a escrever-te este texto com a “torneira aberta”. Deves pensar que sou uma lamechas, que a minha “torneira” abre por tudo e por nada. Sou uma lamechas sim, mas desde que cá estou a minha “torneira” até tem andado seca... Só se abre quando penso nas pessoas, nas “minhas pessoas”, aquelas que dão o verdadeiro sentido à minha vida!  E ao escrever este texto, ela abriu-se desmesuradamente...

Enfim...estar longe faz-me valorizar ainda mais aquilo que já sabia que é o mais importante... J Faz-me ter a certeza que o mais importante está na simplicidade das coisas simples.... E que o essencial é realmente invisível aos olhos e são invisíveis os laços que estabelecemos com as pessoas.... que tanto sentido trazem ás nossas vidas...

Bem, falaste-me de sonhos...de sonhos de menino! A ideia de quereres ser pescador não me pareceu descabida, pelo contrário, demasiadamente contextualizada! Talvez o sonho que concretizaste primeiro, certo !? Já pensaste na possibilidade de nesse momento em que concretizaste o sonho de ir à pesca, teres virado  “pescador de sonhos”?!:) Talvez isso te tivesse ajudado no concretizar dos sonhos seguintes...talvez te continue a guiar nos sonhos de hoje.... J

Que permaneças sempre nessa “pesca” de sonhos... e que permaneçamos todos assim!:) Nessa pescaria! ;)

E por falar em pesca!:) Já não falta muito para sairmos de barco por aí... J

Beijinho e um abraço apertado...

Rita Sousa