terça-feira, 17 de setembro de 2013

Luanda, 17 de Setembro


Voo nº SA55, South African airways, destino Joanesburgo ligação a Cape Town. Passageiros acomodados, tripulação a postos, arm doors e Cross check, assim se embarca em mais uma aventura: " Os cinco" por terras de África, um pouco mais a sul. Desta vez sou a mulher no meio de 4 elementos masculinos.

Cape Town, a cidade com a maior latitude do continente, recebeu-nos com um fresquinho ao qual me tenho vindo a desabituar pois, desde Março passado que não sei o que isso é. 

Á saída do aeroporto esperava-nos  um fiat punto que havíamos reservado previamente e viria a ser  nossa companhia nos 3 dias vindouros. Já era tarde, e nesse escuro da noite cerrada, foi o GPS o nosso melhor amigo, que amenizou a dificuldade de conduzir à direita encostado à esquerda e, embora se tivesse "experimentado" a condução em contra-mão, ele fez-nos chegar com confiança ao local de destino: Camps Bay Resort.

Acomodadas as bagagens foi tempo de sair e espreitar a noite de Cape Town, afinal, era Sábado e o pouco tempo que iríamos permanecer por estas paragens, levou a que aproveitássemos intensamente cada instante.

Rumamos ao centro e de cima da Table Mountain avista-se a cidade. E que imagem essa, mágica, de suster o folgo e a respiração com um mundo cintilante aos nossos pés, indiscritível e que fica no coração de quem vive... 

Foi fácil chegar á long street, mais difícil encontrar algo aberto e que suprisse as nossas necessidades: "forrar" o estômago aos mais famintos. O "Zula" parecia vir a servir na perfeição. Um espaço alternativo, com três pistas de dança que tive a oportunidade de bisbilhotar e onde cada um dançava ao seu jeito, como se num mundo próprio vivesse e não houvesse amanhã, um género de trance dance. Num espaço mais reservado, servia-se refeições ligeiras. Foi aí que partilhámos umas tostas de galinha, numa amena cavaqueira. Á saída fomos advertidos por um segurança de que frequentávamos uma zona perigosa. Não demos por isso. Isto para quem se acostuma a andar por Luanda, tudo o que seja menos que isso, é na paz! 

Bateram as 2h e foi hora de regressar aos aposentos. Foi aí que a cabeça repousou na almofada, mas a alma se agitou com a ânsia de devorar todo um mundo novo que está fora por descobrir... Foi dormir a correr pois a alvorada estava convocada para as 8h.

Acordo, afasto o cortinado e tenho o mar aos pés! É esta a imagem que guardo deste sitio. Aqui o mar tem uma bravura imensa que ao mesmo tempo que nos petrifica pela beleza, nos incomoda pela força e pela potência e nos deixa a pensar do que somos realmente feitos...

O pequeno almoço foi "o fim da macacada". Depois de não ter feito a digestão da tosta do dia anterior, meti-me em ovos estrelados com bacon e salsichas. Foi o passaporte para o mau estar, causado pela paragem de digestão, para o dia todo.

As condições meteorológicas não estavam a ajudar para com os "planos das festas". O teleférico que desce a Table Mountain não está operacional na existência de nevoeiro. Mudamos a rota e seguimos a Sul, rumo ao Cabo Agulhas. Por momentos senti-me na estrada que deixa para trás Vila do Bispo e segue direção ao sítio mais terapêutico do mundo mas não encontrei topas, nem pau de pita, nem tonel nem mareta e muito menos palácio inácio. Não é melhor, não é pior, é diferente... Permitiu-me respirar o ar do mar, que renova e liberta e ver com os meus próprios olhos o local onde oceano Atlântico e Indico se cruzam e se fundem numa beleza impar.

O regresso foi com o pôr-do-sol mas a indisposição não me permitiu acompanhar os colegas de jornada para a jantarada de frutos do mar... Parece que foi boa...Fiquei-me pelo chá e fui sonhar cedo.

A segunda feira acordou igualmente coberta de nevoeiro atraiçoando-nos novamente os planos. Não contentes com a desfeita, seguimos para waterfront, uma zona portuária e de marina, próxima ao centro da cidade e que contempla um centro comercial ( o maior da África do Sul) com todos os tipos de lojas, marcas, restaurantes e cafés, confortáveis, convidativos e de design super arrojado, não fosse Cape Town capital mundial do design 2014. É uma cidade cosmopolita, onde várias culturas se encontram e se misturam no chamado melting pot. Uma África bem distinta da que me tenho habituado. Não há anarquia nem caocidade no transito, não há buzinadelas, não há barulheira, não há buracos nas estradas, não há lixo em parte nenhuma. A sério, uma cidade demasiadamente organizada para a desorganização a que me tenho vindo a adaptar e onde as pessoas nos recebem e nos tratam sempre com o maior dos sorrisos parecendo que o terror do apartheid nem sequer passou por ali.

O nevoeiro amainou mas nem por isso o teleférico reabriu. E porque quando Maomé não vai á montanha, vai a montanha a Maomé, não fizemos por menos, fomos ver tudo bem do alto, e levantámos voo, rasgando o céu de helicóptero.

E tantas borboletas na barriga ao olhar para baixo e contemplar a imagem que nos vai aparecendo! A cidade centrada entre o mar e a montanha como pano de fundo e ao descer a Sul, tanto mar, tanto lago, tanta baía, tanta casa numa organização que respira harmonia... Tanta luz aqui! Percebo minha Ritinha porque poderá ter sido este o sítio que escolheste.. Que escolheram :)

Um dia de muita emoção, e antes de o finalizarmos com um jantar no Mama África ( carne de crocodilo, avestruz e veado) ainda pegámos no carro e voltamos a Sul, faltava-nos o "cape of good Hope”!

É desse sítio, onde as tormentas viram boa esperança, onde o medo vira só vontade e onde a vida se abraça, que vos abraço também, num abraço forte e apertado!

Com saudade,

Rita



2 comentários:

  1. "Acordo, afasto o cortinado e tenho o mar aos pés! É esta a imagem que guardo deste sitio. Aqui o mar tem uma bravura imensa que ao mesmo tempo que nos petrifica pela beleza, nos incomoda pela força e pela potência e nos deixa a pensar do que somos realmente feitos..."

    Descrição forte e simples que nos remete ao que somos, crença, loucura, ardor, paixão enquanto dure enfim somos carne e osso.

    Obrigado

    Um Beijo

    NB

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