domingo, 1 de setembro de 2013

Luanda, 1 de Setembro de 2013


O dia de sábado (31.08) começou cedo por aqui. O destino mandava que a alvorada fosse ás 4h30. Dormi “a correr” depois de me ter deitado por volta da 1h30, talvez pela excitação do dia que se avizinhava.

Enfim, nada que os 400km de caminho e quase 5h de viagem até à província de Malange não me permitissem recompor.

O dia foi nascendo para nos iluminar a estrada e eu, mesmo esfregando o sono dos olhos, não consegui evitar que estes se serrassem nos entretantos. O Samu ao comando do volante e a sua “Sweet” como co-piloto deixaram-me a liberdade e a segurança para que isso acontecesse.

Entre os solavancos do percurso lá os fui entreabrindo...e tanta coisa para admirar! O terreno menos cultivado, mais plano e um pouco mais seco da província de Luanda foi dando lugar a uma paisagem progressivamente mais verdejante na província do Kwanza norte e posteriormente na de Malange, em que os embondeiros coabitam com as palmeiras, os catos, as bananeiras e outras árvores que não sei seus nomes, algumas de flor. Assim a planície vai dando lugar ao planalto e á montanha... e vai-nos surgindo a imagem de uma outra Angola, mais pura, mais verde, mais cultivada e mais organizada... à medida que o valor que o conta quilómetros regista ascende e a distância para o lugar de destino diminui.

A fauna também foi surpreendendo com a sua diversidade. Pela primeira vez vi um suricata! Ainda parámos o carro, mas foi para esquecer, o animal fugiu-nos da vista por entre o horizonte verde.  Vimos também um macaco... e parecem existir também gazelas que acabamos por vê-las mas num outro contexto: Mercado de rua, mortas, degoladas e prontas a ser cozinhadas para matar a fome de alguém.

Acho que ainda não vos tinha falado da experiência sensorial que é visitar um mercado de rua por aqui.

Pois então, é uma explosão imperdível para os sentidos... de cores, cheiros, texturas e sabores. Ali podemos encontrar de tudo, desde frutas a legumes variados (pela primeira vez provei mabok, -bem ácido- a fazer lembrar maracujá), carne crua que se vende assim ao ar livre...e no meio de vaca, galinha e porco pode encontrar-se gazela ou macaco.  Também há aqueles que com fogareiros improvisados  vão “tapando os buracos no estômago” de quem passa, com espetadas mistas ou a simples banana assada. A forma como as frutas e legumes estão expostas nos mercados é “colírio para os meus olhos” tudo super organizado por qualidades, tamanhos e cores...em pilha... a fazer lembrar o mercado “La boqueria” em Barcelona mas aqui num outro contexto.. mais “natural” em que as “bancadas” são a própria terra!

E eis que passadas 5h chegamos ao destino pretendido e á primeira atração: Quedas de Kalandula. As segunda maiores quedas de água de África. E bem, acho que quaisquer palavras ou qualquer imagem seria redutora para descrever a imponência das mesmas! Uma beleza natural única que de mão humana só tem mesmo assinaturas nas pedras ao jeito de: “Dibondo eu te amo”. Marcas de  angolanos, portugueses, e chineses que lá querem fazer ficar a sua passagem. Do lado contrário ao miradouro, uma pousada abandonada após época do colonialismo.

Vou tentar anexar ao texto uma filmagem que registei para partilhar o momento.

Foi nas cascatas que encontrei um pescador de sonhos... Pedi-lhe que pescasse o meu...  E no meu estão vocês...

Porque o sonho comanda a vida.... que continuemos todos nessa pescaria... de sonhos!

Com amor... abraço-vos forte o coração!

Rita



8 comentários:

  1. E eu abraço forte o teu minha Rita ... tenho tantas saudades tuas e o que escreves enche-me o peito de uma Terra que me encheu (e continua) tanto tanto tanto.

    Um abraço tão apertado quanto possível*
    Sofia.

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    1. Estás aqui... De mãos dadas comigo!!:) abraço-te forte! :)*

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  2. Xicoração apertadinho!!! Que sonhes muito...

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    1. Sempre e a toda a hora! ;) sopro um beijinho embrulhado num abraço... Com saudade...

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  3. não conheço tal continente,rita! apenas com algumas das tuas descrições,histórias e vivências me vai aguçando o apetite e fazendo sonhar um pouco. Beijocas enormes!
    Márcio

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    1. Tão bom sentir que as pessoas viajam naquilo que escrevo!!;) beijinhos

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  4. Obrigada pela partilha querida Rita. És sempre tão inspiradora e o teu coração tão bonito.
    Deixo-te um poema (talvez já conheças) que leio vezes sem conta, que me ajuda a inspirar e seguir!
    Força estrelinha, tu és luz*
    Beijinhos com amor, Di*

    "Que a força do medo que tenho
    Não me impeça de ver o que anseio

    Que a morte de tudo em que acredito
    Não me tape os ouvidos e a boca
    Porque metade de mim é o que eu grito
    Mas a outra metade é silêncio.

    Que a música que ouço ao longe
    Seja linda ainda que tristeza
    Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
    Mesmo que distante
    Porque metade de mim é partida
    Mas a outra metade é saudade.

    Que as palavras que eu falo
    Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
    Apenas respeitadas
    Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
    Porque metade de mim é o que ouço
    Mas a outra metade é o que calo.

    Que essa minha vontade de ir embora
    Se transforme na calma e na paz que eu mereço
    Que essa tensão que me corrói por dentro
    Seja um dia recompensada
    Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

    Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

    Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
    Que eu me lembro ter dado na infância
    Por que metade de mim é a lembrança do que fui
    A outra metade eu não sei.

    Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
    Pra me fazer aquietar o espírito
    E que o teu silêncio me fale cada vez mais
    Porque metade de mim é abrigo
    Mas a outra metade é cansaço.

    Que a arte nos aponte uma resposta
    Mesmo que ela não saiba
    E que ninguém a tente complicar
    Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
    Porque metade de mim é platéia
    E a outra metade é canção.

    E que a minha loucura seja perdoada
    Porque metade de mim é amor
    E a outra metade também.

    (Oswaldo Montenegro)

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  5. Tão ternas as tuas palavras.. E lindo esse poema, que já me fez verter algumas lágrimas ( aqui deste lado de cá quando o escutei em vídeo).... Se sou luz, sou apenas o reflexo do brilho das pessoas que como tu, me cruzam o caminho!;)* grata meu amor... Abraço-te forte o coração*

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